Publico o artigo do Prof. Luiz Flávio Gomes:
"A Copa e os 2
Brasis: Brasildinávia e Brasilquistão
Publicado por Luiz Flávio Gomes - 7 horas atrás
Num passe
de mágica, que o jeitinho brasileiro conhece bem, conseguiram ludibriar os
jornalistas estrangeiros, durante a Copa do Mundo, escondendo deles o Brasilquistão (o
Brasil que não deu certo: violento, desigual, desumano, concentrador de
riquezas, pobre, sujo, sangrento, corrupto, serviços públicos de quinta
categoria etc.). Mostraram para eles o Brasildinávia (o Brasil
que está com a ponta da proa virada para a Escandinávia). Mais da metade dos
438 jornalistas pesquisados (pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas,
contratada pelo Ministério do Turismo) tiveram suas expectativas superadas e
quase 100% (98,6%) acharam o mundial “muito bom” ou “bom”; 96,5% recomendariam
uma viagem ao Brasil. As avaliações positivas deles foram as seguintes:
aeroportos: 88% de aprovação; táxi: 87,7%; segurança pública: 81,8%; rodovias:
81,6%; limpeza pública: 80,4%; sinalização de trânsito e turística: 75,9%;
disponibilidade de voos no Brasil: 75,1%; rodoviárias interestaduais: 69,5%;
mobilidade urbana: 67,9%; telefonia e acesso à internet: 52,1%; imagem do
Brasil após a Copa: melhorou (59,4%) (Carta Capital 23/7/14: 26).
O que
eles não viram? Não viram o Brasilquistão, com 276 mortes
epidêmicas e diárias (154 assassinatos e 122 óbitos no trânsito) e mais de 101
mil anual. Viram a tragédia do nosso futebol (10 a 1, em dois jogos), mas não
sentiram o drama na economia (que não cresce e ainda padece de forte inflação),
na saúde (pessoas morrendo nas portas dos hospitais), nos transportes públicos
fora da Copa (e fora dos feriados), na segurança pública (o Brasil é o 12º país
mais violento do planeta e 16 das 50 cidades mais homicidas estão aqui), na
indústria (que está ultrapassada), nas comunicações (que funcionam
precariamente), na educação (3/4 da população é analfabeta funcional), na
inovação, no uso inteligente das tecnologias, na burocracia, na política
corrupta, nos partidos decreptos, na Justiça que tarda, na polícia que mata (e
que também morre, no genocídio estatal), na criminalidade organizada que
expande etc.
Durante o
mês da Copa as televisões e rádios monopolizaram suas atenções no futebol.
Ficamos com a impressão de que os furtos, roubos, latrocínios, tiros,
assassinatos e corrupções tinham tirado férias. Todo esse inferno diário foi
eclipsado para se mostrar o paraíso (cheio de Adãos e Evas nús e sensuais,
escondendo-se obviamente as serpentes e seus ovos). Como é fantástica a
sensação do Brasildinávia e como é massacrante e torturante o nosso
dia-a-dia de Brasilquistão, com tiroteios diários nas favelas
“pacificadas”, com mortes nas portas dos hospitais, com ignorância dentro das
escolas, com políticos filmados embolsando o dinheiro da corrupção financiada
por empresas e bancos… Que calmaria ver nas televisões apenas tiros de meta
(não de canhões do Exército), tirombaços aos gols (não contra os jovens
negros), ataques eficientes das seleções (não os ataques nas ruas contra nossa
integridade).
O paraíso
se instalou no lugar do inferno, mas este está voltando ao seu “normal”
(errático, sorumbático e morfético). Foi elogiada a segurança nos estádios e
das equipes, sem se dizer que estamos em pleno regime de exceção (a ponto de se
mobilizar em todo momento o Exército, que só atua em situações excepcionais).
Eliane Castanhêde (Folha 22/7/14: A2) foi informada de que mais de 12 mil
argentinos foram vítimas de roubo/furto (segundo o G1), os furtos nos trens,
metrôs e ônibus aumentaram 379% em São Paulo e por aí vai. Os números completos
sairão nos próximos dias. EsseBrasilquistão (que é o que nos pega no cotidiano)
não tem nada a ver com o Brasildinávia que os jornalistas
estrangeiros viram. Eles acharam bonitas até mesmo as nossas indecentes
rodoviárias! (“sabe de nada, inocente”)."
Professor
Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino
LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça
(1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). [
assessoria de comunicação e imprensa +55 11 991697674 [agenda de palestras e
entrevistas] ]
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