quarta-feira, 6 de maio de 2015

SILAS, JOGADOR DE FUTEBOL E MISSIONÁRIO. UM TESTEMUNHO.



Publico o testemunho de Alex Dias Ribeiro (ex-corredor de F1 e fundador dos Atletas de Cristo) sobre o ex-jogador Silas.


SILAS




Por Alex Dias Ribeiro

Eu não tinha a menor idéia do que poderia acontecer quando Johnny Monteiro me convidou para fazer uma palestra para os jogadores do São Paulo FC no início da temporada de 1985. Para minha surpresa, encontrei o time inteiro sentado no auditório do Estádio do Morumbi. Fui recebido pelo técnico Cilinho que me apresentou a um elenco de feras: Oscar, Dario Pereyra, Pita, Müller, Careca, Nelsinho e outros. Dei o testemunho de como Deus tinha dirigido minha carreira do Kart até à Fórmula 1, seguido de uma pequena mensagem. Quando terminamos, Cilinho me convidou para almoçar com o time, fez questão que eu sentasse em sua mesa e me apresentou pessoalmente cada um de seus pupilos, chamados de “Menudos do Morumbi”. Foi aí que descobri que, entre tantas feras, havia muitos que já jogavam no time de Cristo: Márcio Araújo, Abelha, Müller, Silas e outros. Logo iniciamos um grupo de Atletas de Cristo na casa do Rodolfo Fraga. Mais de 100 pessoas apareciam nas reuniões, atraídas pela fama dos atletas. Daí, nos tocamos da necessidade de um pequeno grupo de discipulado, só para os atletas e suas esposas. Durante dois anos nos reunimos toda semana em minha casa. Foi um tempo muito legal em que crescemos muito no conhecimento de Deus. De todos os atletas com quem já trabalhei, o Silas foi o que mais alegrias me deu porque sempre colocou em prática tudo que aprendemos juntos na Palavra de Deus (a Bíblia). Tranqüilo e corajoso dentro e fora de campo, Silas nunca pipocou na hora de compartilhar sua fé e anunciar o Evangelho em qualquer situação. Seu comportamento e sua ética cristã sempre endossaram sua pregação. Entre outras aventuras, ele contrabandeou Bíblias para a Rússia durante o Campeonato Mundial de Juniores em que foi eleito o melhor jogador do torneio em 1985. Foi o primeiro atleta de Cristo a disputar uma Copa do Mundo, no México em 1986. Em Interlagos sentou no banco do passageiro de um XR3 envenenado que eu tinha para umas voltas em alta velocidade. Ao contrário dos outros passageiros que quase morriam de medo, Silas começou a cantar: - Quem é salvo e tem certeza bate o pé, tum, tum, tum!, e dava risada batendo com o pé no assoalho do carro enquanto eu arrepiava os pneus nas curvas. Dono de um grande senso de humor, jamais o vi reclamando da vida, muito pelo contrário. Ficou sete meses sem jogar por causa de uma série de contusões, mas não perdeu tempo: aceitou todos os convites para falar em igrejas, clubes ou qualquer lugar onde ele pudesse compartilhar as coisas que Deus fez em sua vida.
Certa vez, perdeu a cabeça em um jogo em Curitiba, revidando uma jogada violenta. Era lance para cartão vermelho. O juiz viu tudo e mesmo assim não o expulsou. Talvez tenha considerado seu caráter e sua boa ficha. Envergonhado, Silas desculpou-se com o adversário antes do fim do jogo. Uma pesquisa de opinião pública realizada no início de 1987 revelou Silas como o cristão mais conhecido e respeitado do país naquela época. Por isso, foi o escolhido para trabalhar gratuitamente como garoto propaganda na campanha de lançamento do livro “Força para Viver”. 3.000.000 de livros foram distribuídos pela Fundação Arthur de Moss e 600.000 pessoas escreveram indicando que receberam Jesus Cristo como seu Salvador depois de lerem o livro, que acabou conhecido como “o livro do Silas”.
Na Copa de 1990, o técnico Sebastião Lazaroni abriu espaço para uma preleção sobre a influência de Deus na união e no desenvolvimento do espírito de equipe. A única condição era que a mensagem só poderia ser apresentada por um dos jogadores. Com medo de serem ridicularizados na frente do grupo, pelas gracinhas de Renato Gaúcho, ninguém quis encarar o desafio. Com muita naturalidade, Silas foi lá e apresentou a palestra que eu havia preparado. Saiu aplaudido pelo grupo inteiro. Ao se tornar um craque internacional, ele foi jogar em outros países e eu pude visitá-lo e constatar que, por onde andou, Silas deixou sua marca e deu bons frutos. Em Lisboa, um pastor me contou emocionado: - “O que o Silas fez pelo progresso de Evangelho em Portugal em um ano, nós pastores, juntos não conseguiríamos realizar em 10 anos.” Na Itália, ele foi um referencial tanto no modesto Cesena quanto no Sampdoria, campeão italiano daquele ano.
Na Argentina, fundou 10 grupos locais de Atletas de Cristo; apresentou durante anos um programa de TV de audiência nacional chamado La Gran Jugada e discursou no Parlamento argentino. Eu vi o estádio do Velez Sarsfield lotado cantar seu nome em coro e o trânsito parar em Buenos Aires para os fãs pedirem autógrafos a um simples garoto de Campinas, que foi o único jogador brasileiro a tornar-se ídolo da torcida na terra de Maradona. No Japão, passei uma semana hospedado em sua casa, em 1999, e vi de perto o bom marido e bom pai que Silas se tornou. Enquanto jogava no Purple Sanga, em Kioto, ele liderava uma reunião semanal em sua casa e, juntos, andamos em alta velocidade no circuito de Suzuka a bordo do Medical Car da FIA. Nesse dia, Silas orou por um dos pilotos de F1 momentos antes da largada para o GP do Japão. O que mais me impressionou em toda sua carreira é que Silas nunca perdeu a visão de multiplicar, no mundo da bola, todos os talentos que Deus lhe confiou, ao invés de enterrá-los dentro de uma paróquia, como é costume de muitos.
Agora, chegou o tempo de Silas pendurar as chuteiras. Não veremos mais em campo seu futebol eficiente. Mas tenho certeza que fora das quatro linhas Silas será ainda mais útil para os interesses do Reino de Deus. Sai Silas e fica a pergunta: Quem irá ocupar o seu espaço nos campos de futebol?

Alex Dias Ribeiro

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