Publico o testemunho de Alex Dias Ribeiro (ex-corredor de F1 e fundador dos Atletas de Cristo) sobre o ex-jogador Silas.
SILAS
Por Alex Dias Ribeiro
Eu não tinha a menor idéia do que poderia acontecer
quando Johnny Monteiro me convidou para fazer uma palestra para os jogadores do
São Paulo FC no início da temporada de 1985. Para minha surpresa, encontrei o
time inteiro sentado no auditório do Estádio do Morumbi. Fui recebido pelo
técnico Cilinho que me apresentou a um elenco de feras: Oscar, Dario Pereyra,
Pita, Müller, Careca, Nelsinho e outros. Dei o testemunho de como Deus tinha
dirigido minha carreira do Kart até à Fórmula 1, seguido de uma pequena
mensagem. Quando terminamos, Cilinho me convidou para almoçar com o time, fez
questão que eu sentasse em sua mesa e me apresentou pessoalmente cada um de
seus pupilos, chamados de “Menudos do Morumbi”. Foi aí que descobri que, entre
tantas feras, havia muitos que já jogavam no time de Cristo: Márcio Araújo,
Abelha, Müller, Silas e outros. Logo iniciamos um grupo de Atletas de Cristo na
casa do Rodolfo Fraga. Mais de 100 pessoas apareciam nas reuniões, atraídas
pela fama dos atletas. Daí, nos tocamos da necessidade de um pequeno grupo de
discipulado, só para os atletas e suas esposas. Durante dois anos nos reunimos
toda semana em minha casa. Foi um tempo muito legal em que crescemos muito no
conhecimento de Deus. De todos os atletas com quem já trabalhei, o Silas foi o
que mais alegrias me deu porque sempre colocou em prática tudo que aprendemos
juntos na Palavra de Deus (a Bíblia). Tranqüilo e corajoso dentro e fora de
campo, Silas nunca pipocou na hora de compartilhar sua fé e anunciar o
Evangelho em qualquer situação. Seu comportamento e sua ética cristã sempre
endossaram sua pregação. Entre outras aventuras, ele contrabandeou Bíblias para
a Rússia durante o Campeonato Mundial de Juniores em que
foi eleito o melhor jogador do torneio em 1985. Foi o primeiro atleta de Cristo
a disputar uma Copa do Mundo, no México em 1986. Em Interlagos sentou no banco
do passageiro de um XR3 envenenado que eu tinha para umas voltas em alta
velocidade. Ao contrário dos outros passageiros que quase morriam de medo,
Silas começou a cantar: - Quem é salvo e tem certeza bate o pé, tum, tum,
tum!, e dava risada batendo com o pé no assoalho do carro enquanto eu
arrepiava os pneus nas curvas. Dono de um grande senso de humor, jamais o vi
reclamando da vida, muito pelo contrário. Ficou sete meses sem jogar por causa
de uma série de contusões, mas não perdeu tempo: aceitou todos os convites para
falar em igrejas, clubes ou qualquer lugar onde ele pudesse compartilhar as
coisas que Deus fez em sua vida.
Certa vez,
perdeu a cabeça em um jogo em Curitiba, revidando uma jogada violenta. Era
lance para cartão vermelho. O juiz viu tudo e mesmo assim não o expulsou.
Talvez tenha considerado seu caráter e sua boa ficha. Envergonhado, Silas
desculpou-se com o adversário antes do fim do jogo. Uma pesquisa de opinião
pública realizada no início de 1987 revelou Silas como o cristão mais conhecido
e respeitado do país naquela época. Por isso, foi o escolhido para trabalhar
gratuitamente como garoto propaganda na campanha de lançamento do livro “Força
para Viver”. 3.000.000 de livros foram distribuídos pela Fundação Arthur de
Moss e 600.000 pessoas escreveram indicando que receberam Jesus Cristo como seu
Salvador depois de lerem o livro, que acabou conhecido como “o livro do Silas”.
Na Copa de 1990,
o técnico Sebastião Lazaroni abriu espaço para uma preleção sobre a influência
de Deus na união e no desenvolvimento do espírito de equipe. A única condição
era que a mensagem só poderia ser apresentada por um dos jogadores. Com medo de
serem ridicularizados na frente do grupo, pelas gracinhas de Renato Gaúcho,
ninguém quis encarar o desafio. Com muita naturalidade, Silas foi lá e
apresentou a palestra que eu havia preparado. Saiu aplaudido pelo grupo
inteiro. Ao se tornar um craque internacional, ele foi jogar em outros países e
eu pude visitá-lo e constatar que, por onde andou, Silas deixou sua marca e deu
bons frutos. Em Lisboa, um pastor me contou emocionado: - “O que o Silas fez
pelo progresso de Evangelho em Portugal em um ano, nós pastores, juntos não
conseguiríamos realizar em 10 anos.” Na Itália, ele foi um referencial tanto no
modesto Cesena quanto no Sampdoria, campeão italiano daquele ano.
Na Argentina, fundou 10
grupos locais de Atletas de Cristo; apresentou durante anos um programa de TV
de audiência nacional chamado La Gran Jugada e discursou no Parlamento
argentino. Eu vi o estádio do Velez Sarsfield lotado cantar seu nome em coro e
o trânsito parar em Buenos Aires para os fãs pedirem autógrafos a um simples
garoto de Campinas, que foi o único jogador brasileiro a tornar-se ídolo da
torcida na terra de Maradona. No Japão, passei uma semana hospedado em sua
casa, em 1999, e vi de perto o bom marido e bom pai que Silas se tornou.
Enquanto jogava no Purple Sanga, em Kioto, ele liderava uma reunião semanal em sua
casa e, juntos, andamos em alta velocidade no circuito de Suzuka a bordo do
Medical Car da FIA. Nesse dia, Silas orou por um dos pilotos de F1 momentos
antes da largada para o GP do Japão. O que mais me impressionou em toda sua
carreira é que Silas nunca perdeu a visão de multiplicar, no mundo da bola,
todos os talentos que Deus lhe confiou, ao invés de enterrá-los dentro de uma
paróquia, como é costume de muitos.
Agora, chegou o tempo de
Silas pendurar as chuteiras. Não veremos mais em campo seu futebol eficiente.
Mas tenho certeza que fora das quatro linhas Silas será ainda mais útil para os
interesses do Reino de Deus. Sai Silas e fica a pergunta: Quem irá ocupar o seu
espaço nos campos de futebol?
Alex
Dias Ribeiro
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