terça-feira, 4 de agosto de 2015

AMA MISSÕES? A RESPONSABILIDADE DO PASTOR (Miss. Kelem Gaspar)

Ama missões?

A responsabilidade do Pastor

A igreja só será despertada para a obra missionária, através do seu próprio pastor, pois é para ele que todos os olhos estão voltados e é dele que se esperam todas as decisões relacionadas à obra missionária.
Tenho conhecido pastores altamente comprometidos com a causa missionária, capazes dos maiores sacrifícios pessoais para que a obra avance. Um deles abriu mão do seu aumento de salário e repassou o reajuste ao qual teria direito para os missionários mantidos por sua igreja. Outro adota missionários até de outras denominações simplesmente pelo prazer de ver a obra crescendo. Os exemplos que eu conheço pessoalmente não são muitos, mas são poderosos. Pastores que estão realmente preocupados com a maneira que se apresentarão diante de Deus.
O pastor que simplesmente nomeia um secretário de missões e não se envolve, não participa, não oferta pessoalmente, não colabora, não pode desejar ser levado a sério. A igreja sempre seguirá seu líder. Para o bem e para o mal.
O pastor tem a obrigação e o privilégio de fazer Cristo conhecido em todo o mundo através dos esforços de sua congregação, independente de serem bem sucedidos, ricos ou influentes, cada um tem um quinhão de responsabilidade diante do mundo que geme em agonia e, somente se cada um fizer a sua parte concluiremos a grande tarefa entregue a nós na grande comissão. Ouso afirmar que o pastor da mais pequenina igreja das densas selvas amazônicas pode influenciar o mundo colocando-se à disposição de Deus para esse fim. 


Em uma convenção, ouvi um pastor afirmar que a liderança precisa examinar sua visão para ver em qual categoria ela se enquadra, segundo ele o pastor pode ter:
Uma visão de púlpito: só enxerga até onde seus olhos podem alcançar, seu olhar alcança o último banco de sua congregação. Se a frequência está boa, se estão todos lá, para ele está tudo bem, não há necessidade de ir além. Esse obreiro sente que tem o que precisa.
Uma visão de torre: O Obreiro enxerga apenas, o bairro onde sua igreja está inserida, investe e apoia trabalhos evangelísticos, cultos públicos e cruzadas, desde que os recém convertidos passem a congregar em sua igreja e sejam incorporados ao seu rol de membros.
Uma visão de helicóptero: seu olhar alcança até as divisas de seu estado, investe em trabalhos que ele conhece e pode visitar pessoalmente quando quiser, é até solidário com campos menores e com pastores menos favorecidos, mas, não vai além a seu compromisso.
Uma visão de satélite: essa é a visão de Cristo, uma visão que desconhece fronteiras, divisas, cortinas e obstáculos. O pastor, o qual tem a visão de satélite sabe que a ordem de Deus é universal e investe em sua igreja, em seu bairro, em seu estado, em seu país e além, em lugares que talvez jamais conheça pessoalmente, mas também fazem parte do projeto de Deus.
É por essa visão que devemos clamar, por uma visão não comercial, uma visão que não pergunta quanto irei ganhar com isso, não visa crescimento pessoal ou financeiro, mas objetiva o crescimento do reino de Deus, luta para que almas sejam resgatadas do inferno e não para simplesmente aumentar o número de dizimistas locais.
Certa vez conheci um pastor que havia sido severamente chamado à atenção porque foi fazer compras em um município vizinho e lá foi informado acerca de uma mulher terrivelmente endemoniada há três dias e de que todos os esforços para liberta-la haviam sido infrutíferos, então, tomado de amor e compaixão, dirigiu-se a humilde residência e expulsou o demônio, pregou o Evangelho e orou pela família, que então se decidiu por Cristo. Qual foi sua surpresa, ao retornar ao seu município e receber a visita do pastor vizinho enfurecido, gritando e exigindo que nunca mais suas “fronteiras” fossem desrespeitadas... Não preciso nem comentar que uma visão como essa não privilegia o reino e é uma afronta o Cristo que morreu pelo mundo inteiro. Parafraseando John Wesley: Pastor, acorda, teu campo é o mundo!
Até que haja esse despertamento, pouco adiantará os esforços dos secretários e líderes de missões. O fogo precisa ser aceso no centro do altar e de lá se espalhar no púlpito, na congregação, no bairro, no estado, no país e no mundo. A igreja local tem as pessoas e o dinheiro necessário para evangelizar o mundo, mas tanto um como outro, só aparecerão à medida que o pastor demonstrar interesse e amor pela obra missionária.
O banco segue o púlpito. O banco imita o púlpito. O coração da igreja será alcançado à medida que o coração do seu líder deixar-se alcançar. A responsabilidade do pastor é enorme, porque ele pode ser tanto o facilitador como também, o maior impedimento à obra missionária mundial. Se existem hoje igrejas no Brasil que não oram, não investem e não se interessam por missões é porque seus próprios líderes ainda não estão cumprindo o ide de Cristo.
Todos, sem exceção, precisam entender o quanto a obra missionária deve ser um assunto presente no dia a dia da igreja, não podendo ser reduzida a um departamento, não é “trabalho” de meia dúzia de pessoas, e nem é opcional.
Missões é uma guerra e não é possível ficar neutro. Quem não ama, não ora, não incentiva e não contribui, já escolheu um lado. O pior lado.
Uma das deficiências que tenho notado é a falta de informações e dados confiáveis sobre missões, geralmente, quando estou ministrando seminários sobre esse assunto, as pessoas se surpreendem com as informações apresentadas e muitos tem me procurado nos intervalos para comentar que não tinham ideia do que estava acontecendo no Brasil e no mundo no aspecto missionário e todos nós sabemos que sem informação não há oração, sem oração não há despertamento, sem despertamento, não há candidatos e nem recursos financeiros e sem esses dois últimos, não há missão. Uma igreja informada é uma igreja transformada. A ignorância nesses assuntos tem sido responsável por boa parte dos nossos fracassos.
Não, não estou exagerando, embora muitos leitores possam achar que sim, devido ao fato de missões está ocupando uma posição secundária e até mesmo sendo totalmente ignorada em algumas igrejas, isso não apaga essas verdades. Nossa liderança não será julgada pela quantidade de templos que construiu, pelo crescimento patrimonial, pela grandeza e alcance de suas realizações, mas serão julgados pelos esforços que fizeram ou deixaram de fazer para que outros fossem libertos das trevas e conduzidos à luz.
Oremos para que nossos líderes vejam o mundo em agonia de um lado, e o amoroso Cristo do lado oposto e vejam a si mesmos como pontes entre ambos. Oremos para que tenham uma clara visão das necessidades do mundo, um forte sentimento de amor e compaixão pelas almas perdidas e um profundo senso de dever que resulte em um esforço real e contínuo em favor dos não alcançados. Para saber que não é suficiente entender e apoiar o trabalho missionário, mas compreender que são a chave para o sucesso ou o fracasso dos projetos missionários adequados às necessidades dessa geração.
Mas, e na prática, o que podemos fazer para compartilhar essa visão com a igreja?
Além de simpósios, conferências, cultos temáticos e seminários, (sempre ministrados por pessoas realmente comprometidas com a causa e jamais por conferencistas internacionais cujo único interesse é dinheiro e fama) proponho que tenhamos um momento de intercessão missionária em todas as nossas reuniões e não em um único culto mensal, que ensinemos sobre missões em nossas classes da escola dominical para despertar as crianças e os adolescentes para a importância do trabalho missionário, que organizemos caravanas para visitar missionários enviados ou adotados pela igreja local, que tenhamos um painel com os endereços dos missionários para que os crentes sejam estimulados a escrever cartas e apoiá-los em seus dilemas e dificuldades, que as cartas ou e-mails dos missionários sejam impressos nos informativos da igreja para que todos tenham acesso às informações e pedidos de oração; que cada departamento tenha seu momento de intercessão por missões e seja desafiado a fazer alguma coisa em favor das famílias missionárias adotadas ou enviadas pela igreja, atitudes simples podem ser de grande importância para quem está longe, como o envio de correspondência, de um jornal local, de livros adequados, de brinquedos para os filhos dos missionários, de remédios etc.
Essas ações servem tanto para confortar o missionário que está longe, como para envolver a igreja em uma atmosfera missionária, a qual certamente criará um clima muito propício para o surgimento de novos candidatos. Evidentemente, para tudo isso ser possível, é necessário que a igreja tenha um departamento de missões funcionando, tenha o apoio total do pastor e que vá além do rotineiro, para que a obra missionária passe a fazer parte do cotidiano de cada crente.
Não esquecendo que, ao tratar de missões, devemos sempre começar com oração, pois só através do Espírito Santo teremos discernimento para evitar erros que poderão trazer enormes prejuízos ao reino.
Alguns cuidados devem ser observados pela igreja que deseja iniciar um movimento missionário: 
Em primeiro lugar, não tenha pressa. Não se preocupe com as pressões externas, a primeira coisa a fazer é iniciar um movimento de oração em sua igreja e em seguida começar a informar sobre a atual situação do mundo sem Cristo, através de filmes, palestras, peças teatrais, cultos temáticos, conferências, tudo o que for possível, para fazer com que a igreja desperte para essa realidade. Quando a igreja tiver mais madura em conhecimento e bem envolvida com a intercessão missionária, estará pronta para adotar um missionário que já esteja em campo, cooperando com sua manutenção e levando os relatórios ao conhecimento da igreja. Naturalmente, durante esse processo, Deus levantará pessoas com real ardor e chamada missionária, que se destacarão na igreja local.
Quando surgir, na igreja, o primeiro candidato para missões em tempo integral, é imprescindível observar se candidato não é novo convertido e se ele tem uma boa base teológica e se ele já possui experiência com algum projeto local para conquistar almas, antes de ser enviado ao campo pela primeira vez. Quando enviamos alguém sem preparo ao campo, causamos muitos prejuízos ao próprio candidato e a obra missionária.
Eu mesma sofri muito e desnecessariamente em muitos aspectos por não ter sido treinada na igreja local. Obreiro sem treinamento muitas vezes, atrasa a obra, volta antes do tempo, não se envolve verdadeiramente e às vezes, coloca tudo a perder. É muito melhor investir no candidato antes de sua saída, do que contabilizar os prejuízos, depois de sua volta.
Trabalho com treinamento de jovens chamados para trabalhar com índios, ribeirinhos e quilombolas, bem como com os mais pobres e menos alcançados da terra, aqui no centro de treinamento transcultural Pakau Oro Mon, onde a candidata passa um ano interna, aprende as disciplinas indispensáveis para quem vai realizar um trabalho dessa natureza. Embora o treinamento adequado não seja sinônimo de sucesso, é indispensável.
Outro ponto importante para ter em mente é que, quando se trata de missões, não devemos ter medo de abrir mão do melhor. Digo isso porque alguns pastores veem a obra missionária como uma maneira de se livrar dos maus obreiros. Lamentável.
Certa vez um pastor me ligou acerca de um casal, o qual queria mandar para o treinamento aqui, depois de termos acertado todos os detalhes, ele deixou escapar a seguinte frase: nem acredito que finalmente vou me livrar desse presbítero, ele é um calo no meu sapato, não aguento mais. Obviamente, acabei com o projeto na hora.

Os candidatos para a obra missionária devem ser bem preparados intelectualmente, espiritualmente, psicologicamente e transculturalmente, além de serem excelentes obreiros na igreja local, partindo do princípio de que se não derem frutos nela, não darão em nenhum outro local do mundo. Jamais mande prá longe quem não é uma benção perto.

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